Cristiane Ferreira da Maia Cruz
Eliane Fernandes de Abreu
“Sonho
com uma sociedade reinventando-se de baixo para cima, onde as massas populares
tenham, na verdade, o direito de ter voz e não apenas o dever de escutar... uma
sociedade, onde a exigência de justiça não signifique nenhuma limitação da
liberdade e a plenitude da liberdade não signifique nenhuma restrição do dever
de justiça”.
Ao despontar de uma nova eleição, os cidadãos
brasileiros se confrontam com desafios impostos, escolhas determinadas e
resultados almejados que exigem lideranças imbuídas de princípios morais e
éticos.
Nesse contexto os cidadãos têm que perceber
que o voto é muito importante e que realmente pode mudar
suas vidas.
É muito comum ouvirmos que todos os políticos são iguais e que o voto é
apenas uma obrigação. Ledo engano, participar das eleições é um direito e não
um dever. É um ato de cidadania.
Impende ressaltar ainda que a participação política não é só voto, outro
poder maior do que o voto é o poder de fiscalização e acompanhamento do
trabalho de quem foi eleito, pois somente votar e achar que tudo esta resolvido
é, no mínimo, inocência.
A sociedade critica os corruptos, no entanto dá propina para o guarda para
não levar uma multa, reclama dos ladrões, mas desvia material de escritório do
seu local de trabalho como se isso não fosse furto, reclama dos políticos, mas
não cumpre seu papel de cidadão para denunciar quando é preciso, sob o
argumento de que não quer se envolver.
A sociedade
brasileira reclama de sua classe política, mas não faz a necessária reflexão,
não realiza a sua self compliance, ou
seja, não age de
acordo com as regras.
De outro lado, cabe também destacar que essa mesma classe política, que representa a sociedade, é por
ela escolhida.
Dentro
desse contexto, podemos comparar a sociedade a um rio contaminado e se extraímos
uma amostra para exame, verificaremos que essa amostra também está contaminada.
Logo, não se pode esperar muito de uma classe política quando ela é a amostra
de uma sociedade doente, corrompida, individualista, egoísta e mal educada.
A
sociedade brasileira precisa se conscientizar que estamos criando uma bola de
neve e que depois que virar uma avalanche será muito mais difícil ou quase
impossível sobrevivermos a ela.
Precisamos
definir uma meta para esta nação, e isso só é possível por um único caminho, qual
seja, o da educação.
Vamos tomar como exemplo
a Suécia que era um país pobre, mas habitado por um povo determinado a sair da pobreza
e do atraso. E conseguiu.
O segredo, que não é segredo, é sempre o mesmo: investimento em
educação, ciência, tecnologia, justiça, projetos nacionais integrados, que
levam ao desenvolvimento com igualdade e justiça social.
No princípio, havia fome,
e até meados do século XIX, a Suécia foi um dos países mais pobres da Europa,
com uma economia agrária e atrasada. Mas a face do país foi mudada, e entre os
fatores decisivos que produziam a mudança, estavam investimentos substanciais
em educação, infraestrutura e tecnologia. No século XX, a antes subdesenvolvida
Suécia, praguejada pela pobreza, transformou-se em uma das mais ricas e
sofisticadas nações industrializadas do mundo.
O Brasil é visto pelos
suecos como um país que está se desenvolvendo com rapidez e está a caminho de
se tornar uma superpotência econômica. Mas para que isso se concretize, a
missão primordial do país neste processo é erguer as massas da pobreza, por
meio de melhores escolas, melhores oportunidades e melhores condições de vida
em geral. E, assim como aconteceu na Suécia, o acesso da população a uma
educação de qualidade e a melhores condições de vida formará no Brasil um povo
mais consciente, e consequentemente mais exigente em relação aos seus
políticos.
Afinal, uma população
com maior grau de instrução tem um grande impacto na prevenção da corrupção, ou
seja, se uma pessoa não tem acesso à educação, ela não tem condições nem de
compreender e muito menos de fiscalizar o sistema, uma sociedade se constrói
começando não no topo, mas na base da população. Portanto, é preciso oferecer
uma boa educação a todas as camadas da sociedade.
Precisamos ser um país onde a justiça que condena os maus políticos e os corruptos, é exercida
pelo eleitor ativo, que pune nas urnas e por meio da opinião pública, uma
justiça pesada e eficaz. E onde os mais ativos denunciantes de corrupção, são
os órgãos de informação e os cidadãos. Por isso, casos de corrupção política,
são acontecimentos tão raros, que se perdem na memória.
Necessitamos ser uma
nação onde a política é levada a sério tanto pelos cidadãos, como pelos
políticos, não se admitem jogos sujos, insultos e ataques pessoais entre os
políticos em campanha ou no governo quem escolher esse caminho, é também
penalizado nas urnas.
As nossas campanhas
políticas devem ser mais focadas em projetos concretos de governo, e não em campanhas
negativas e agressivas.
Os ataques
pessoais contra adversários políticos e campanhas negativas não devem ser
aceitos. A campanha tem que ser limpa, e não deve haver espaço para ofensas
indecorosas.
Tomemos
novamente o exemplo da Suécia onde a corrupção na política quase não existe, e
quem se atreve a pisar o risco, por mais insignificante que seja o ato,
desaparece da política, pois os eleitores e a comunicação social garantirão que
esses nunca mais terão votos ou a confiança do povo.
Na
concepção sueca, sistemas que concedem privilégios e regalias aos políticos são
perigosos. Porque transformam políticos em uma espécie de classe superior, que
não sabe como vivem os cidadãos comuns. Dessa maneira, conforme sublinham vários
políticos suecos, cria-se uma distância entre o povo e seus representantes, o
que por sua vez gera um sentimento de desconfiança e descrença da população em
relação aos políticos.
A
Suécia tem uma história marcada por uma longa tradição de democracia, e por um
forte sentimento de igualdade entre as pessoas. Mesmo durante o período de
poder monárquico, ao lado do rei sempre existiu um parlamento, e já na Idade
Média havia a participação de pessoas comuns e camponeses nas assembléias
políticas, ao lado do clero e da nobreza. Ao longo dos tempos, foi preciso
lutar contra o poder do rei e os privilégios da nobreza. O rei perdeu todos os
poderes na década de 70, e o desenvolvimento da democracia sempre esteve
associado aos valores igualitários da sociedade sueca: ninguém deve ser melhor
do que ninguém, e isso inclui a classe política.
Políticos
suecos sabem que não estão no poder para enriquecer, e sim para representar os
interesses da sociedade como um todo.
Já no
Brasil, ainda vigoram o conceito patrimonialista e os privilégios políticos que
marcaram o processo de formação do Estado brasileiro, com a visão de que a
coisa pública não é de ninguém.
O interessante é notar que a Suécia, que
juridicamente ainda é uma monarquia, conseguiu concretizar o ideal republicano.
O Brasil, que formalmente é uma república, ainda é um país de súbditos.
Existe
uma clara consciência aqui de que os políticos são eleitos para servir, e não para serem servidos. Afinal, um poder que se serve, em vez de servir, é um poder
que não serve.
Política
também não é algo que se discute apenas em ano de eleição, e embora o voto não
seja obrigatório na Suécia, o índice de comparecimento às urnas no país tem se situado historicamente entre 80% e
90%. E esta sociedade mais
consciente não dá privilégios aos seus políticos, nem aceita os desvios do
poder.
Enfim, precisamos
acreditar que a democracia no Brasil chegará perto desse grau de civilização da
Suécia e isso deverá ocorrer por meio de investimentos maciços em educação e pesquisa, de políticas
de promoção da igualdade social e de uma série de
reformas abrangentes que aperfeiçoaram gradualmente as instituições do país.
Hoje, a Suécia é uma das mais ricas e prósperas nações industrializadas do
mundo, um dos países menos corruptos do mundo, e uma sociedade que não aceita
os desvios do poder.
E se a
Suécia transformou a própria história, o Brasil também pode melhorar a sua. O
caminho passa pelo maior acesso da população a uma educação de qualidade, pela maior consciencialização popular sobre a
importância da participação política, e por reformas relevantes nas
instituições do país, como a reforma política. É também preciso reconhecer os
avanços que têm sido feitos, como a lei da transparência e a lei
anti-corrupção. Mas será preciso também mudar a mentalidade.
Precisamos
construir uma sociedade forte, que não fique dependente de políticas públicas,
mas que saiba exigir de seus governantes o cumprimento de suas obrigações para
as quais foram escolhidos para cumprir.
É hora
de mudar, mas mudar com segurança, o Brasil não pode mais ser um país
subdesenvolvido e não ter uma educação de qualidade universalizada em todas as
camadas sociais.
Somente
a educação é capaz
de criar oportunidades iguais a todas as classes, somente através da educação é
que teremos um país mais justo, mais sério, mais comprometido com seu destino,
ou melhor, mais capaz de construir um destino grandioso.
Não
podemos deixar escapar a oportunidade de fazer valer todos os sacrifícios que
já vivemos para chegar aonde chegamos, todos os sofrimentos que esse povo teve
devem valer a pena.
Temos
que buscar políticos comprometidos com esta causa, com a causa de fazer um
Brasil grande, com a causa de criar um projeto de nação, uma nação que não
precise de tantas leis, uma nação onde as pessoas se respeitem mais, onde os
compromissos firmados sejam cumpridos, onde todos saibam seus direitos, mas
mais importante, onde todos saibam seus deveres, porque assim todos terão seus
direitos respeitados, mesmo aqueles que os desconhecem.
Não,
isso não é quimera, isso é um projeto sério e capaz de ser aplicado.
Destarte
que é por meio, da educação que se consegue reduzir, e muito, os índices de
violência, de criminalidade, de disputas judiciais, um povo bem educado é capaz
de viver numa maior harmonia. Não será um mundo perfeito, mas com certeza será
um país melhor de se viver.
Afinal, que Brasil temos e que Brasil queremos?
Referências
Bibliográficas:
FERREIRA, José Marcio Gramacho. Que sociedade queremos. Disponível em
. Acesso em 19 de
agosto de 2016.
WALLIN ,Claudia. Um País Sem Excelências e Mordomias. São Paulo: Geração Editorial, 2014.
FREIRE, Paulo. In:
Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Freire>.
Acesso em 19 de agosto de 2016.
CORTELLA, Mario Sergio. In:
Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Mario_Sergio_Cortella>.
Acesso em 19 de agosto de 2016.
Na Suécia corrupção
cura-se nas urnas. Disponível em <http://apodrecetuga.blogspot.com/2015/02/na-suecia-corrupcao-cura-se-nas-urnas.html#ixzz4HhpWcoYe>.
Acesso em 19 de agosto de 2016.
(Texto publicado no https://jus.com.br/artigos/51542/que-brasil-temos-e-que-brasil-queremos) Clique aqui